Gestão

Sobre negociações coletivas

8 de agosto de 2014

 

por Ivo Dall’acqua Jr.

 

Desde o início de julho, as categorias econômicas do varejo e do atacado organizadas no Estado de São Paulo cumprem o processo negocial com a categoria profissional dos comerciários. O impacto maior dessa jornada ocorre no dia primeiro de setembro, quando as categorias com maior peso, tanto em número de empresas, quanto em quantidade de postos de trabalho tem sua data base pactuada. Entre elas encontramos Lojistas do Comércio.

 

Embora não devessem, esses processos têm a influência do contexto onde ocorrem, pois o princípio da organização sindical brasileira por categorias pressupõe o foco do debate nas condições e na situação que o setor possa estar vivendo.

 

Embora a simetria de representação escale nos polos opostos de diálogo apenas duas “personas”, de um lado os comerciantes e de outro os comerciários, o que uma radiografia da atividade nos demonstra é que existe muito mais diferenças que semelhanças num setor que, olhado dessa vitrine, pode parecer monolítico. A verdade é que não é.

 

Examinando comparativamente os dados dos últimos cinco anos e partindo apenas de dados oficiais, temos como primeiro impacto nos números globais do Estado de São Paulo um aumento do rendimento médio do trabalhador do comércio em 50,90%, em parte gerado pelos reajustes concedidos à categoria, que montaram 47,04% no período. Em contrapartida, o faturamento real do varejo cresceu 41,76%. Em termos de produtividade, os resultados são negativos. Some-se a isso as alterações para maior da carga tributária, das tarifas públicas, dos serviços, o que torna o gerenciamento dos negócios mais complexo e oneroso.

 

Quando mergulhamos em busca dos números recortados pelos vários segmentos do varejo, aumenta nossa preocupação com a gerência de pessoas na categoria lojista. Os dois grupos que compõe o grosso da atividade, ou seja, tecido, vestuário e móveis objetos de adorno e acessórios apresentaram, respectivamente, resultados negativos de produtividade que montaram 19,27% para os dois primeiros ramos e 47,60% para os demais, o que fará com que essa categoria vá para a mesa negocial com uma grande responsabilidade.

 

Some-se a isso o pessimismo e a incerteza que passaram a contaminar nossos espíritos a partir da constatação que os demais setores que compõe a atividade econômica já começaram a suprimir postos de trabalho, a substituir produção por importação. O endividamento das famílias também tem pesado muito na retração dos hábitos de consumo, o que tem gerado impacto negativo nas perspectivas do varejo.

 

Claro que não podemos, por dever social, deixar de lado a preocupação com a geração e manutenção de empregos, pois o mais justo processo de distribuição de renda é através do trabalho digno, produtivo e bem remunerado. Não podemos perder de vista também que o varejo tem sido a maior porta de entrada no mercado de trabalho, pois acolhemos jovens, que conosco crescem e ganham experiência.

 

Vai ser difícil. Entendemos as necessidades dos trabalhadores, pois atender as carências pessoais e familiares é tarefa que tem exigido sacrifício e disciplina.

 

Esperamos que através de um diálogo maduro e responsável possamos nos fazer compreender, pois mais do que qualquer coisa, precisamos garantir que o período que se seguirá a essa negociação, seja vencido com dignidade e que alicerce o retorno a uma fase mais próspera, que possa trazer benefícios a todos.

 

 

Ivo Dall’acqua Jr. é presidente do Conselho de Assuntos Sindicais da FecomercioSP.

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