Sem casamentos, Rua das Noivas luta por sobrevivência com promoções
Sem casamentos, Rua das Noivas luta por sobrevivência com promoções
Em São Paulo, centro comercial especializado perdeu ao menos 30% das lojas desde o início da pandemia
Com a impossibilidade da realização de eventos, os comerciantes da rua São Caetano, conhecida como a Rua das Noivas, na região central de São Paulo, viram o movimento despencar desde o início da pandemia.
Pelo menos 30% das lojas fecharam as portas em definitivo, segundo estimativa de Alexandre Ortiz, diretor superintendente da distrital Centro da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).E as que se mantêm abertas tiveram que demitir, adequar os custos e reduzir a margem de lucro.
A estilista tem tentado comercializar seus modelos pelas redes sociais, sem sucesso. “Vendemos mais do que vestido, vendemos sonho. A pessoa não quer comprar um vestido de noiva pela internet.”
Além disso, sem saber quando poderão celebrar seus casamentos, as noivas estão adiando a compra.
De fato, a venda pelo comércio eletrônico não é uma saída para o setor, avalia Guilherme Campos, diretor de administração e finanças do Sebrae-SP. “Uma forma de tentar resistir à atual crise é investir em outro tipo de confecção, de vestuário”, diz ele.
Bia conta que tem feito de tudo para não perder vendas. Para isso, ela reduziu em até 40% o preço dos vestidos. “Modelos de primeiro aluguel que há dois anos custavam R$ 5.000, hoje estamos fazendo por R$ 3.000. Ou eu reduzo o valor ou vou perder o cliente”, diz a empresária.
Segundo ela, em muitos casos o valor consegue cobrir somente o custo da mercadoria. “Com o aumento constante nos preços da matéria-prima fica ainda mais difícil fechar as contas.”
Com três lojas na região, o diretor do Sindilojas (Sindicato dos Lojistas do Comércio de São Paulo), Walter Gomes, destaca que, além da queda nas vendas, os empresários têm de lidar com as mudanças de datas das celebrações.
“Não estamos cobrando para as noivas que estão reagendando, assim conseguimos manter pelo menos parte das vendas”, diz o comerciante, que atua há 30 anos no ramo.
Só que isso também tem um custo para o lojista, afirma ele. Há casos em que um mesmo vestido estava reservado para aluguel em dias diferentes, mas, com as mudanças nas datas dos casamentos, algumas agendas passaram a coincidir. Então, foi preciso criar vestidos idênticos para atender as clientes.
O casal Elisabeth Caires Ribeiro da Silva, 30, e Flávio Oliveira Portela, 41, teve que fechar de vez sua loja de noivinhos e topos de bolo que funcionava na rua São Caetano desde 2013. Eles entregaram o ponto físico em junho do ano passado e migraram para as vendas virtuais.
“Foram três meses com a loja fechada e sem vender nada. Não tivemos alternativa”, afirma Elisabeth.
Hoje, ela tem um showroom na própria casa, na Vila Alpina (zona leste de SP), onde deixa as vitrines com os topos de bolo que vende ou aluga. Mas, com a redução nas festas de casamento, os negócios não vão bem.
“Este ano está pior que ano passado. Março foi o pior mês de todos os tempos. Nosso faturamento caiu 95%”, diz.Sem perspectivas, a empreendedora decidiu buscar outra especialização. “Fiz um curso de tatuagem e estou começando a atuar também nessa área”, conta. Elisabeth afirma que não tem intenção de retomar o negócio na Rua das Noivas quando a pandemia acabar. “Ainda não definimos, mas para lá provavelmente não vamos voltar”, afirma ela.
Os empresários da rua São Caetano, que é uma referência nacional no comércio de itens de casamento, estão apreensivos em relação ao o futuro da região.
Para Guilherme Campos, do Sebrae-SP, centros comerciais como a Rua das Noivas vão voltar às atividades após a pandemia. “Não tenho dúvidas disso, pois esses polos fornecem uma experiência física muito importante”, afirma.
“Os casamentos voltarão, assim como o glamour do vestido de noiva, mas todos os lojistas estarão ainda muito machucados”, diz.
Em diversos segmentos, os consumidores ainda vão querer se deslocar até uma região que reúne lojas especializadas , e esse é o caso da rua São Caetano, afirma Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomercio-SP.
Mas, de maneira geral, o comércio de rua está em um momento vulnerável. “Isso causa preocupação porque é um setor que tem alto índice de empregabilidade. Como não consegue manter sua atividade por muito tempo com restrições de circulação, isso leva ao fechamento de lojas e engrossa a lista de desempregados”, diz Carvalho.
Alexandre Ortiz, da ACSP, avalia que quem tem imóvel próprio na região ainda deve ter condições de manter o negócio aberto pelo menos até o final deste ano. Aqueles que pagam aluguel, porém, não conseguirão resistir por mais muito tempo.