Custos nas alturas e cliente sem dinheiro. Como se preparar para o final de ano?
Por Fátima Fernandes, Diário do Comércio | Imagem Loony Jeans/Divulgação
Inflação e juros em alta, taxa de desemprego acima de 14%, crise hídrica, falta de insumos, instabilidade econômica e política.
Com este cenário tão conturbado, como os empresários se preparam para o último trimestre do ano, considerado o melhor período de vendas?
Lojistas ouvidos pelo Diário do Comércio afirmam que nunca foi tão difícil fazer planejamento, principalmente num momento em que faltam insumos e os aumentos de custos superam 20%.
Para quem tem confecção e lojas, a decisão foi reduzir a produção em relação a 2019, como se o ritmo do mercado brasileiro passasse a ser medido a partir da pandemia.
Alguns empresários apostam que as vendas até podem voltar ao nível de 2019 por conta de uma demanda reprimida, mas muito mais apoiadas em crédito do que em pagamentos à vista.
“O Brasil vive uma nova realidade, com novos números. Todo mundo está produzindo menos, sem estoques. Quem não estiver fazendo isso, pode quebrar”, afirma Nelson Tranquez, diretor da Loony Jeans, e vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Bom Retiro.
Os números são mais conservadores, de acordo com ele, porque o consumidor brasileiro tem outro perfil em razão dos efeitos da pandemia, do desemprego, da alta do dólar e da inflação.
Para evitar o repasse dos aumentos de custos para os preços, Tranquez diz que tem utilizado alguns “artifícios”, no caso de peças em jeans, a sua principal matéria-prima.
“Se o tecido é mais caro, escolhemos um processo de lavagem mais em conta. Se é mais barato, optamos por um processo capaz de valorizar o tecido. A ideia é fazer um equilíbrio para não sobrecarregar no preço”, diz ele.
Com 34 lojas, a rede MOB, especializada em roupas femininas, reduziu em cerca de 30% a produção da coleção primavera-verão, na comparação com 2019.
Isso porque, na média, pelo menos até agora, o faturamento das lojas é de 13% a 15% menor do que o do período pré-pandemia.
“O momento é difícil. Faltam matérias-primas, mão de obra especializada, e alguns custos subiram até 40% no último ano”, diz Ângelo Campos, sócio-proprietário da rede.
As lojas do interior de São Paulo, de acordo com Campos, têm performance melhor do que as de São Paulo, que operam com vendas até 45% menores do que as do período pré-pandemia.
“As discussões com os shoppings para a redução de aluguel continuam. No shopping Plaza Sul, as vendas estão 45% abaixo das de 2019, no Vila Lobos, 35%, e no Morumbi, 30%”, diz ele.
A falta de insumos e a alta de preços preocupam ainda mais os lojistas no caso da produção de peças para o inverno de 2022, já que as de primavera-verão estão decididas e em andamento.
“Há desabastecimento de produtos e os preços estão subindo de uma maneira inacreditável, principalmente no caso de tecidos importados, com grande impacto nas peças para o inverno”, afirma Luiz Vaiano, diretor da Canal, rede especializada em roupas femininas.
Com 23 lojas, a Canal preparou para este final de ano uma coleção primavera-verão com números de peças parecidos com os de 2019, com estoques enxutos.
“Quem sobreviveu a este período de pandemia pode viver algum período de bonança lá na frente. Para escapar da falta de produtos e alta de preços, é preciso antecipar as compras.”
Independentemente de todo este cenário mais conturbado, especialistas em varejo lembram que, de outubro a janeiro, alguns eventos merecem toda a atenção dos empresários.
São eles:
- Reabertura do comércio
- Dia das crianças
- Black Friday
- Chegada da Primavera e, logo em seguida, do Verão
- Início das férias escolares (mesmo para quem está on-line)
- Natal
- Réveillon
- Saldos pós-festas
“Isso tudo vai gerar maior fluxo de clientes nas lojas, nos sites e nas mídias sociais, portanto, é fundamental que os lojistas fiquem atentos a esses eventos”, afirma Gustavo Carrer, consultor de varejo.
Para dar conta deste novo momento, depois de um ano e meio de pandemia, Carrer preparou um checklist com itens que devem ser observados. Veja quais são:
1. Comprar com antecedência itens sazonais
2. Manter estoques enxutos
3. Contratar temporários (vendedores, seguranças, limpeza, decoração e vitrines) para dar conta do atendimento
4. Planejar promoções da Black Friday (selecionar produtos, definir preços, divulgação, destaques na loja/site/mídias sociais)
5. Reforçar segurança e proteção das mercadorias nas lojas e em trânsito
6. Implantar decoração de Natal ou visual merchandising especial de final de ano com o propósito de atrair a clientela
7. Planejar promoções de Natal (selecionar produtos, definir preços, divulgação, destaques na loja/site/mídias sociais)
8. Planejar liquidações sempre com o cuidado de não vender com prejuízo
Diferentemente do que acontecia antes da pandemia, de acordo com Tranquez, agora o lojista precisa prestar muito mais atenção no preço de venda, se vai caber no orçamento do consumidor, que está muito mais apertado depois da pandemia.
“É hora de pensar no produto em um processo de traz para a frente. Antes de dar início à produção, é preciso ter a certeza do preço no ponto de venda”, diz.
Antes, diz ele, o empresário tinha mais liberdade para pensar nas peças, ousava mais. “Agora, tem de ter o pé no chão, controlar demais os custos, para não comprometer toda a operação.”
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