
Luz vermelha para o varejo: energia mais cara desafia negócios
Nesse mês de agosto, bandeira vermelha 2 entra em vigor e eleva custos do setor varejista; bônus da Itaipu alivia apenas o consumidor residencial
Cada vez que é anunciada uma elevação da bandeira tarifária nas contas de energia elétrica no país, o varejo aumenta a sua preocupação. Este sentimento ocorre, pois, o setor normalmente é duplamente impactado em situações como esta. Havendo o aumento geral do custo da energia elétrica, o orçamento dos consumidores fica mais apertado pela elevação do dispêndio com este serviço essencial, causando redução na renda disponível e que poderia ser usada para um novo consumo, atingindo o comércio.
Além do impacto via consumidor, a energia elétrica mais cara também altera o custo fixo do próprio estabelecimento comercial, que vai ter de separar mais recursos para pagar uma conta de luz mais cara.
Bandeiras tarifárias
Basicamente é o que se vê nos meses de maio a setembro no Brasil, quando a estiagem traz impactos à produção de energia elétrica (majoritariamente hidroelétrica), fazendo com que mude o custo de sua geração. Para isso, em 2015 foi criado o sistema de bandeiras tarifárias de energia elétrica, que adiciona tarifas ao consumidor final, vide a descrição abaixo:
Bandeira verde: A tarifa não sofre nenhum acréscimo;
Bandeira amarela: A tarifa sofre acréscimo de R$ 0,01885 para cada quilowatt-hora (kWh) consumidos;
Bandeira vermelha – Patamar 1: A tarifa sofre acréscimo de R$ 0,04463 para cada quilowatt-hora kWh consumido.
Bandeira vermelha – Patamar 2: A tarifa sofre acréscimo de R$ 0,07877 para cada quilowatt-hora kWh consumido.
Em 2025, a bandeira amarela vigorou em maio, passando para a bandeira vermelha 1 em junho e julho e agora houve nova mudança para agosto, onde vigorará a bandeira vermelha 2.
A despeito deste último movimento novamente impactar o bolso de todos os consumidores, ele será praticamente anulado pela também entrada na conta de energia elétrica de 97% da população final (consumidores residenciais e rurais que consumiram menos de 350 quilowatts-hora em pelo menos um mês de 2024) do chamado “Bônus de Itaipu”, que traz um crédito a tal público em suas contas de energia no mês de agosto, devido ao resultado positivo na conta de comercialização da parte brasileira da Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional em 2024. E valor a ser distribuído será de R$ 936,8 milhões, causando até mesmo uma esperada deflação do custo final da energia elétrica residencial no país neste oitavo mês do ano, a despeito da mudança da bandeira tarifária vermelha 1, para a vermelha 2.
Dois lados
Neste sentido, o varejo até por um lado se alivia, pois o seu consumidor não será tão impactado pela mudança temporária da bandeira tarifária. Porém, como o “Bônus de Itaipu” não atinge consumidores comerciais ou industriais, o setor varejista ainda será impactado pela mudança na bandeira tarifária na conta de luz do próprio estabelecimento.
Considerando a descrição das bandeiras acima e em um exemplo de um varejista que consuma 800 kWh de média mensal a um tarifa básica de R$0,725 por kWh, teríamos os seguintes custos:
Bandeira verde: 800kWh x R$0,725 = R$580,00
Bandeira amarela: (800kWh x R$0,725) + (800kWh x R$ 0,01885) = R$580,00 + R$15,08 = R$595,08 (+2,60% em relação a bandeira verde)
Bandeira vermelha – Patamar 1: (800kWh x R$0,725) + (800kWh x R$ 0,04463) = R$580,00 + 35,70 = R$615,70 (+6,15% em relação a bandeira verde)
Bandeira vermelha – Patamar 2: (800kWh x R$0,725) + (800kWh x R$ 0,07877) = R$580,00 + R$63,02 = R$643,02 (+10,86% em relação a bandeira verde)
Naturalmente este é um exemplo considerando uma magnitude de consumo de 800 kWh, o que está longe de ser a realidade de tantos segmentos heterogêneos do varejo, seja em tamanho dos estabelecimentos, seja em segmento varejista de atuação. Até porque há ramos que se utilizam mais intensamente de maquinários, ar-condicionados, câmaras frias, etc, que possuem maior gasto mensal com energia elétrica e, portanto, a alteração de bandeira poderá ser mais sentida financeiramente.
Análise e boas práticas
Seria exagerado dizer que o aumento do custo da energia elétrica em agosto ao varejista irá comprometer a sua subsistência como negócio, porém é claro que reduz a sua margem e a competitividade, fazendo com que a performance do estabelecimento tenha de ser marginalmente superior em meses de conta de luz mais elevada para manter o nível esperado de rentabilidade, ou serão necessárias ações de economia de energia em períodos como este para compensar a elevação da tarifa. Abaixo alguns exemplos de boas práticas:
- Sazonalidade: Sabendo que o período de maio a setembro há tradicionalmente uma estiagem no país, favorecendo a elevação do custo da conta de luz, provisionar recursos antes de tal período pode ajudar a não haver um impacto mais elevado na rotina dos custos fixos do estabelecimento.
- Temperatura e iluminação: Estarmos em um período mais frio ajuda a não manter o ar-condicionado ligado tanto tempo (ou o tempo todo) no estabelecimento. Aproveitar mais a luz natural também ajuda a economizar energia elétrica, além de mais critério na iluminação de locais fechados e de não atendimento ao cliente, com estoques, cozinhas, banheiros, almoxarifado, etc.
- Planejamento antecipado de manutenção: Equipamentos malconservados (como geladeiras de bebidas, expositores e climatizadores) consomem mais energia. Fazer revisões regulares e substituição prévia de itens com alto consumo por modelos mais eficientes (com selo Procel A) são sempre boas alternativas.
- Equipamentos mais eficientes: Substituir todas as lâmpadas fluorescentes ou incandescentes por lâmpadas de LED, que consomem até 80% menos energia e duram muito mais, gera economia. Também é útil instalar sensores de presença em áreas pouco utilizadas, como estoques e banheiros.
Encarecimento
Em resumo, a mudança da bandeira tarifária em agosto para a Vermelha 2 não deve impactar significativamente os consumidores residenciais finais, até pela distribuição do “Bônus de Itaipu”, o que alivia o orçamento das famílias neste quesito e não traz grandes mudanças ao ritmo de vendas do comércio varejista. Ainda assim, este setor sentirá o encarecimento da conta de luz do próprio estabelecimento, algo que até é temporário, mas que fará alguma diferença no caixa. Preparar-se para isso na tentativa de equilibrar a rentabilidade via o avanço de vendas ou redução de outros custos são as únicas alternativas para a transposição incólume deste período, que já até é conhecido e, por isso, o planejamento sempre será a melhor alternativa.
Departamento de Economia e Tributação
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O Sindilojas-SP leva em consideração o fato de que temáticas como obrigações fiscais, carga tributária e questões relativas à recente regulamentação da Reforma estarão permanentemente presentes no dia a dia dos empresários do comércio.
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