Abram Szajman: “A crise é de todos”
por Abram Szajman
Patrões têm o capital. Trabalhadores, o trabalho. Nem sempre os interesses de ambos coincidem. Mas há uma série de temas vitais que, se não forem defendidos de forma conjunta, acabam provocando a morte tanto do capital quanto do trabalho, ao mesmo tempo. É como se estivessem num mesmo barco em mar revolto, tentando chegar a um porto seguro. Todos precisam remar na mesma direção e no mesmo ritmo para se salvar.
O comércio emprega atualmente, no Brasil, aproximadamente 13 milhões de trabalhadores, dos quais 3 milhões estão no Estado de São Paulo. É a maior categoria profissional do setor privado do País, responsável por uma expressiva fatia do PIB.
Estamos, porém, diante de uma nuvem de incertezas que pode levar o barco a pique. O desemprego que atinge todos os setores da economia, a redução do volume de crédito, a inflação e a queda dos investimentos, tanto do setor público quanto da iniciativa privada, retratam uma crise que precisa urgentemente de solução conjunta entre todos os que constroem a riqueza do Brasil. E o cenário piorou com o anúncio do aumento da carga tributária e em razão da situação crítica em que se encontra a continuidade dos direitos dos trabalhadores.
As empresas e os que nelas trabalham vêm fazendo a sua parte. De um lado, as lojas negociam suas compras até a exaustão para oferecer o melhor preço a seus clientes. Fazem gestão estratégica para reduzir custos. Oferecem liquidações para fazer caixa e pagar dívidas. Treinam funcionários para atender os clientes da melhor forma. As vendas, porém, continuam a cair em ritmo preocupante.
Os trabalhadores, por meio de seus sindicatos, federações e confederações, investem em capacitação e negociam até o limite salários e direitos para sua categoria. Ainda assim, enfrentam o fantasma do desemprego e a redução do poder aquisitivo provocada pela inflação e pela queda das comissões de vendas.
Trabalhadores com emprego, remuneração e qualidade de vida são consumidores que movimentam a roda da economia e fortalecem suas empresas. Ambos contribuem para a principal receita do governo: os impostos. Entretanto, a economia agora está à deriva porque um setor rema contra: o governo federal, que precisa fazer a sua parte, mas insiste em manter políticas econômicas recessivas, adotadas sem o necessário diálogo com a sociedade.
Entre as últimas “estratégias” anunciadas recentemente pelo governo está a volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Apresentado com alíquota de 0,20%, o imposto despertou o interesse de Estados e municípios, o que pode fazer seu valor subir para 0,38%.
Ela pode parecer baixa, mas é paga por toda a cadeia produtiva a cada movimentação, por fornecedores, comerciantes e clientes. O resultado é um tiro no pé: o encarecimento dos produtos desestimula ainda mais o consumo e acena para a manutenção da recessão, com queda na arrecadação de impostos e uma crise em espiral.
Apesar disso, somos otimistas e acreditamos que ainda dá tempo de corrigir o rumo na direção de um Brasil com economia forte e estável para trabalhadores e empresários.
O Estado brasileiro tem um tamanho que a sociedade não tem condições de sustentar. Ao longo do tempo o que temos assistido é ao oposto da racionalidade econômica: o Estado cresce mesmo em épocas de crise, enquanto a saúde dos pequenos empresários e trabalhadores vai definhando.
Só há um caminho para evitar o caos maior: corte de despesas do governo federal, adoção da meritocracia na contratação de funcionários públicos, redução de dívidas públicas, privatização das empresas estatais ineficientes e uma gestão que combata a corrupção de forma efetiva e clara. A sociedade brasileira não pode continuar sendo punida por crises provocadas por governos que remam contra.
Abram Szajman é presidente da FecomercioSP. Reprodução autorizada.