Abram Szajman: “Aumentar tributos é destruir a poupança”
Fonte: FecomercioSP
por Abram Szajman
Nos últimos anos a ascensão social das famílias brasileiras de menor renda ganhou destaque no debate econômico. Impulsionada pela expansão dos programas sociais, por maior acesso ao crédito e pelo crescimento real da renda, essa parcela da população elevou seu padrão de consumo e contribuiu para o expressivo crescimento do setor de comércio e serviços. A inflação e os juros altos, a dificuldade para conseguir novos empréstimos e o aumento do desemprego, porém, põem em risco essas conquistas.
Concentrada em itens essenciais alimentos, transporte público e energia -, que têm maior peso no orçamento das famílias de menor renda, a inflação castiga, sobretudo, os mais pobres. O Custo de Vida por Classe Social, calculado mensalmente pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), aponta que nos 12 meses até julho o custo de vida médio do paulistano subiu 9,63%. Mas, na segmentação por classe, essa alta foi de 11,16% na classe E; de 11,26% na classe D; de 9,87% nadasse C; de 8,82% na classe B; e de 8,73% na classe A.
Essa queda do poder de compra, tão mais acentuada quanto mais baixa é a renda das famílias, e que se observa também em todo o País, sugere, por meio de simulações, que mais de 350 mil famílias teriam caído da classe D (renda mensal de até R$ 1.740,00) para a classe E (renda de até R$ 1.160,00), e quase 20 mil da classe C (até R$ 8.700,00) para a classe D, apenas pelo fato de que o custo de vida subiu acima da média para os menos favorecidos.
Se considerarmos a queda em torno de 2,5% do rendimento médio real apontada na Pesquisa Mensal do Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a estimativa será de que mais de 230 mil famílias teriam passado da classe C para a classe D, e quase 920 mil da classe D para a classe E. Mais: 90 mil famílias teriam retrocedido da classe B (renda de até R$ 14.500,00) para a C. No total, mais de 1,2 milhão de famílias teriam regredido socialmente nos últimos 12 meses. Tudo isso sem considerar os efeitos do desemprego crescente.
Outros fatores contribuem, ainda, para o risco de reversão da ascensão social de milhões de famílias: redução significativa das linhas de crédito para a população de renda mais baixa, já excessivamente endividada; redução do aumento real dos salários, principalmente do salário mínimo; aperto nas regras para saques do seguro-desemprego; e redução do volume de recursos destinados a programas como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Nacional do Ensino Técnico (Pronatec).
Nesse cenário preocupante, o aumento de impostos pode significar o empurrão que faltava para fazer submergir de vez aqueles que haviam conseguido melhorar seu padrão de vida. Mesmo o direcionamento da tributação extra para as empresas e para as camadas de maior renda não deixará de atingir a todos, pois a economia é um sistema de vasos comunicantes.
Assim, quando se aumentam os tributos das empresas, a tendência é a de que os preços dos produtos subam e o nível de investimentos caia. No caso das famílias, ocorre que apenas aquelas com renda superior a R$ 8.740,00 são capazes de consumir menos do que ganham e podem, portanto, poupar. São apenas 5,5 milhões, enquanto a maioria (56 milhões de famílias) gasta mais do que ganha e, por isso, depende do crédito gerado pela poupança da minoria.
A conclusão é a de que o total da poupança das famílias se restringe a R$ 20 bilhões, que tendem a desaparecer se o governo avançar sobre as parcas economias daqueles 5,5 milhões de famílias (cerca de 15 milhões de pessoas), sempre chamadas a pagar a conta da falta de controle e gestão do setor público. Sem a poupança do andar de cima, ficará mais caro e escasso o crédito que até agora ajudou a engrossar as fileiras da classe média.
Abram Szajman é presidente da Fecomercio-SP