Black Friday: inflação em alta e outros problemas travam descontos | Sindilojas na mídia
Por PAULA SOPRANA, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A inflação em alta, o câmbio e os problemas de abastecimento em algumas cadeias devem travar os descontos oferecidos por lojas na Black Friday deste ano. Com famílias endividadas e o mercado de trabalho reagindo de forma lenta, a expectativa de economistas é que o ticket médio também seja inferior ao de 2020.
“Os descontos claramente serão menores. Os empresários estão com margem de lucro apertada, o consumidor está endividado, e esse cenário será desafiador para o varejo conceder o desconto que o cliente espera”, afirma Kelly Carvalho, assessora econômica da FecomercioSP.
Algumas projeções para a Black Friday, incorporada no calendário do varejo desde 2010, também indicam mudanças na cesta de consumo. As vendas em categorias de eletrônicos e eletrodomésticos, que historicamente têm boa saída, devem desacelerar, à medida que as famílias trocaram de aparelhos durante os períodos de restrição social da pandemia.
Projeção da CNC (Confederação Nacional do Comércio) mostra aumento da participação de segmentos como vestuário e itens de cuidados pessoais. Deve crescer o consumo voltado para bens semiduráveis e não duráveis, o que pode beneficiar o setor supermercadista.
No ano passado, a Black Friday impulsionou em 3% o faturamento do varejo em novembro, sendo 30% no comércio online. A expectativa é que as vendas digitais permaneçam altas, mas o setor avalia que não há mais a corrida por compras na internet como no primeiro ano de Covid-19.
“Além da inflação, não podemos esquecer dos juros altos ao consumidor, que estão em patamar diferente do evento de 2020, quando a Selic [taxa básica de juros] batia um piso histórico”, afirma Fabio Bentes, economista do CNC. Ele pontua que os produtos mais procurados frequentemente são vendidos a prazo, e que as parcelas estarão mais pesadas.
Em 2020, o faturamento da Black Friday, considerando cinco dias de promoções, foi de R$ 6 bilhões no comércio eletrônico, que responde por grande parte da movimentação. A alta foi de 26,4%, a maior elevação percentual desde 2014, de acordo com dados da Ebit|Nielsen, que não fez projeção para 2021 diante do cenário de incerteza.
Foram mais de 10 milhões de pedidos online, com um valor médio de vendas em R$ 652, segundo a consultoria.
A CNC estima que a sexta-feira (26) deva movimentar R$ 3,93 bilhões, considerando lojas físicas e virtuais. Sem contar a inflação, é o maior patamar em 11 anos. Em termos reais, no entanto, o volume projetado mostra queda de 6,5% no volume, a primeira retração desde 2016.
“É o cenário mais difícil para os varejistas desde 2016. No final de 2015, a inflação anualizada era semelhante à de hoje, de 10,6% nos últimos 12 meses encerrados em outubro. Será um grande desafio dar desconto de mais de 10% no comércio”, diz Bentes.
De acordo com o Sindilojas-SP (Sindicato do Comércio Varejista e Lojista do Comércio de São Paulo), as empresas ainda têm dificuldade para encontrar mercadorias após as crises nas cadeias de suprimento e os comerciantes, menos capitalizados, estão sem crédito para investir no fim de ano.
A Black Friday e o Natal são datas que geram contratações temporárias.
“A perspectiva é que até seja melhor do que no ano passado, mas não como se esperava. O endividamento das empresas médias vai limitar bastante a contratação”, avalia Aldo Macri, presidente do sindicato.