Em meio à turbulência, há oportunidades no varejo para os que conseguem enxergar
Inquestionavelmente a pandemia do coronavírus iniciada no começo de 2020 vem gerando incertezas e desafios para o Varejo em níveis nunca antes vistos. Vale destacar, nesse sentido, que apesar de o resultado oficial do varejo do 1º Tri 2021 ainda não ter sido divulgado, existe a expectativa de se observar uma regressão preocupante a partir do mês de março, por conta do crescimento no número de casos, anulando parte da recuperação verificada no segundo semestre de 2020.
MOVIMENTOS ANTAGÔNICOS
Nesse contexto tão turbulento, porém, é interessante observar que começam a se delinear dois movimentos aparentemente antagônicos, acontecendo em paralelo em diferentes segmentos do Varejo.
Redução de custos e despesas
Por um lado, o contexto inquestionavelmente desafiador vem colocando os gestores diante de decisões difíceis e de reinvenção de seus negócios. De fato, o que mais se tem observado no mercado é uma série de medidas envolvendo reduções drásticas de despesas e o adiamento de projetos importantes, para redirecionamento de recursos para ações voltadas à digitalização dos negócios.
Expansão por aquisição
Por outro, porém, observa-se também que um grupo de empresas tem aproveitando o momento de dificuldades do mercado para a busca de oportunidades. Tal movimento vem acontecendo em diferentes segmentos do Setor e com características bastante diferentes.
O primeiro segmento a ser destacado é o de Eletrônicos e Eletrodomésticos, no qual seus 3 principais players (Magazine Luiza, B2W e Via – antiga Via Varejo) fizeram 24 aquisições durante a pandemia, chegando a R$ 642 milhões em investimentos. Vale notar que 18 dessas aquisições foram feitas apenas pela Magazine Luiza, com foco em plataformas que complementam o seu ecossistema de varejo eletrônico com novas soluções e inovações.
Outro segmento que teve grande movimentações nesse período foi o de Supermercados, um dos segmentos menos impactados pela pandemia e que teve um período bastante agitado de transações. Em uma frente observaram-se grandes operações envolvendo os seus principais players, como a cisão entre GPA e Assaí e a aquisição do Grupo BIG pelo Carrefour, as quais foram muito bem recebidas pelo mercado e reforçam a ênfase que o setor ainda dá ao varejo físico. Em paralelo, outros players relevantes, ainda que de menor porte, também têm se apresentado organizando-se para a captação de recursos para financiar expansão de lojas físicas – caso esse do Oba, do Hortifruti/ Natural da Terra e do Grupo Muffato.
Contrariando as expectativas, é interessante notar que até mesmo empresas de setores bastante impactados como os de Academias e de Vestuário têm estado ativas, exibindo grandes operações, como a compra da Just Fit pela Smart Fit, a recente ida a mercado pela Renner com o objetivo de captar recursos para um potencial M&A e a recente aquisição da Hering pelo Grupo Soma, após uma proposta feita pela Arezzo. Isso mostra que há boas oportunidades em todos os segmentos para aquelas empresas que possuem bom potencial de capitalização no mercado.
Atenção a oportunidades
Fato é que a pandemia traz desafios, mas também oportunidades para empresas que conseguem ter uma leitura adequada do mercado e identificá-las. Não se deixar abalar pelas dificuldades do curto prazo, mantendo-se atento às oportunidades que se apresentam para acelerar o crescimento com a retomada econômica do pós pandemia é uma estratégia que tem tudo para dar certo e render bons frutos aos acionistas.
Fernando Lima Trambacos é Doutor pelo Programa Pós-Graduação de Controladoria e Contabilidade da FEA-USP. Instrutor do curso de Inteligência de Mercado no Varejo da Faculdade Fipecafi, em parceria com o Sindilojas-SP