Incertezas no varejo aumentam pressão sobre gestores e áreas financeiras
Fechamento do 1º Tri 2021 renova incertezas sobre o Varejo e aumenta a pressão sobre os gestores e as áreas financeiras das empresas
No aguardo da apuração oficial dos resultados do Varejo para o 1º Tri 2021, renovam-se as incertezas em relação ao desempenho do Setor. Após um forte baque em abril de 2020, seguido de um início de recuperação, bastante sustentada pelo Auxílio Emergencial concedido pelo Governo Federal, o recrudescimento da pandemia neste ano, aliado a um Auxílio Emergencial menor, torna muito incerto o que esperar para o restante do ano.
A análise do desempenho acumulado do Varejo, porém, pode esconder uma variação muito grande de comportamento entre os seus diferentes segmentos. De fato, estudo detalhado do desempenho recente por atividade mostra grande discrepância de tendência entre atividades essenciais e não essenciais.
Como se pode observar na figura cima, apesar de todos os segmentos terem enfrentado grande instabilidade no início da pandemia (abril-maio/2020), setores essenciais como os de Combustíveis, Alimentos e Remédios logo se recuperaram e hoje têm exibido grande resiliência mesmo com a piora da pandemia. Já setores como os de Vestuário e Móveis e Eletrodomésticos, mais profundamente impactados pelas medidas de restrição de circulação, vêm apresentando uma exposição muito maior aos riscos atrelados à pandemia, o que culmina em maior flutuação de desempenho.
Este cenário de tamanha complexidade e incertezas coloca as empresas sob muita pressão no que diz respeito à definição do melhor posicionamento a ser tomado para cada contexto específico. Gestores se vêem obrigados a tomar decisões que, ao mesmo tempo, garantam a sobrevivência da empresa no curto prazo, sem abrir mão dos investimentos necessários para a sua adaptação à nova realidade. A pressão maior recai sobre as áreas financeiras das empresas, as quais precisam equilibrar os recursos disponíveis, cada vez mais escassos.
Desse modo, a tomada de decisões financeiras assertivas passa a ser fundamental para o sucesso e, por vezes, a própria continuidade do negócio. Nesse sentido, dentre as principais estratégias adotadas pelas empresas, tem-se observado o seguinte:
● Adoção de austeridade financeira extrema nas lojas físicas e nos escritórios corporativos, principalmente nas empresas em setores não essenciais, envolvendo frequentemente o redimensionamento de quadro e o fechamento de lojas em posições menos estratégicas.
● Repriorização do planejamento de investimentos, envolvendo a postergação de projetos menos essenciais e direcionando recursos para:
▬▬ ● aceleração do processo de digitalização dos canais de atendimento da empresa, envolvendo desde o suporte de interface e sistêmico para a migração para o varejo eletrônico, até as adaptações necessárias na cadeia logísitica;
▬▬ ● adoção de ferramentas de trabalho remoto, que permitam a continuidade do funcionamento da empresa longe dos escritórios corporativos.
● Revisão das políticas comerciais da empresa, tendo em vista a migração para o ambiente digital e a pressão de custos por parte de fornecedores.
Algo crítico nesse contexto, porém, é que as estratégias acima são tomadas em um ambiente de dinamismo e incertezas ainda maiores do que o habitualmente enfrentado pelo Varejo. Além disso, a demanda por investimentos, cujos recursos nem sempre estão imediatamente disponíveis, obriga as empresas a fazerem escolhas tendo que abrir mão do ótimo para se contentar com o melhor possível para as suas realidades. Com a falta de clareza sobre o encaminhamento da pandemia e o ritmo de vacinação, é de se esperar que esse momento de turbulência ainda se prolongue e demande muita resiliência dos gestores operacionais e financeiros dos varejistas brasileiros.
Fernando Lima Trambacos é Doutor pelo Programa Pós-Graduação de Controladoria e Contabilidade da FEA-USP. Instrutor do curso de Planejamento e Gestão Financeira no Varejo da Faculdade Fipecafi, em parceria com o Sindilojas-SP (veja abaixo):