Sindilojas-SP fala sobre ciclovias na cidade em matéria da FecomercioSP
Comércio espera boas vendas e trânsito pior com ciclovia na Paulista
Bom para as vendas e ruim para o trânsito da cidade. Assim tem sido visto, por alguns comerciantes, o projeto que prevê a construção de uma ciclovia no canteiro central da Avenida Paulista, em São Paulo.
Jaqueline Oliveira, gerente de uma loja de calçados na região, tem essa percepção, compartilhada por parte do setor. “A ciclovia que funciona no fim de semana acaba trazendo mais gente para a rua e isso nos ajuda. Mas durante a semana acho que não é tão viável. Acho que vai atrapalhar o fluxo do trânsito, que já é complicado sem ciclovia”, indica.
As obras, previstas para iniciar em janeiro de 2015, irão reduzir de 3m para 2m a largura das três faixas de carros, em cada sentido, além de retirar 20 cm de cada faixa exclusiva para ônibus. O projeto faz parte do plano de metas da Prefeitura e visa implantar uma rede de 400 km de vias para bicicletas na cidade.
A preocupação dos comerciantes tem sentido, na avaliação do mestre em engenharia automotiva e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Luiz Figueira. “A ciclovia vai pegar parte considerável da pista. Parece pouco, mas não é porque temos que pensar que estamos incluindo mais um modal na Avenida Paulista, no caso, a bicicleta. A avenida já tem automóveis, motocicletas, ônibus e tem um fluxo muito grande pelas entradas e saídas do metrô. É um adensamento muito grande”, avalia.
Figueira indica, ainda, que a velocidade média do tráfego deve ser impactada pela ciclovia. “Quando reduz a largura das faixas, as pessoas tendem a andar, naturalmente, em uma velocidade menor, até pela proximidade de um veículo para o outro, além de ter interferência para a motocicleta”, cita. Além disso, o limite de velocidade nas vias deve ser oficialmente reduzido, a fim de garantir a segurança do ciclista e do motorista.
A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo afirma que a expectativa é que o projeto mantenha as condições de segurança e fluidez do trânsito. O programa de ampliar o número de ciclovias na cidade tem como diretriz, segundo a CET, melhorar a conectividade dos trajetos, a funcionalidade ao ligar pontos na capital, otimizar a integração modal e usar a estrutura disponível como meio de transporte.
A Prefeitura indica ainda que o objetivo das ciclovias é incentivar a população a utilizar a bicicleta como meio de transporte, contribuindo para a mobilidade urbana de São Paulo, além de oferecer vias adequadas para os ciclistas que já trafegam pela cidade.
Movimento no comércio
Para a gerente de uma loja de roupas na avenida, Jéssica Nascimento, a via exclusiva para bicicletas deve contribuir com as vendas. “A ciclovia deve mudar a avenida só para melhor porque as pessoas vão circular mais e vai diminuir a quantidade que só passa correndo de carro. Mas precisa ser bem organizada”, avalia.
Para o presidente do Conselho de Desenvolvimento Local da FecomercioSP, Jorge Duarte, os negócios na região não devem sofrer com o projeto. “Trata-se de um comércio consolidado e um local de passagem de muitas pessoas. Permanecendo como centro financeiro promove uma movimentação permanente, independente do tipo de modal que se instale na região”, analisa.
O assessor jurídico do Sindicato dos Lojistas do Comércio de São Paulo (Sindilojas-SP), Sérgio Mitumori, complementa. “Nós acreditamos que a implantação dessa ciclovia não irá causar transtornos para os lojistas porque o local conta com a comodidade do transporte público”.
No entanto, o setor sugere mais debates sobre o projeto e uma avaliação junto à sociedade, como cita Mitumori. “É uma questão que deve ser estudada com cuidado. Temos que saber quais os impactos para os pedestres, motoristas e usuários do transporte público. Deveria haver um consenso com a própria sociedade”.
Duarte, da FecomercioSP, sugere ainda que o projeto poderia ter analisado, por exemplo, implantar a ciclovia não na avenida Paulista, mas nas ruas paralelas.