
Crédito encarece e desafia a gestão financeira do comércio
Empresários precisam rever estratégias de antecipação de recebíveis e capital de giro para manter a saúde financeira em cenário de Selic elevada.
O Sindilojas SP já observou em análises anteriores que o sucessivo aumento da Taxa Básica de juros da economia brasileira, a famosa Taxa Selic, traz impactos negativos aos comerciantes, pois eleva o custo do crédito às pessoas físicas (clientes) e aos próprios negócios (estabelecimentos). Também comentamos que este é um efeito adverso das ações do Banco Central, que se vê na necessidade de subir os juros na tentativa de controlar a subida dos preços da economia (inflação).
O problema é que, se não gostamos de viver com uma inflação persistente, também é muito prejudicial convivermos com juros altos, já que impacta o nível de consumo das famílias e encarece as operações de crédito também dos estabelecimentos comerciais.
Números
Vamos aos números que nos preocupam, o que os empresários precisam estar de olho:
A Taxa Selic atingiu na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central 14,75% ao ano. Como esta taxa é a balizadora de tantas outras taxas de juros, uma das consequências práticas deste aumento é também o crescimento das taxas de juros das Pessoas Jurídicas no Brasil. Para termos ideia, de acordo com os dados de março de 2025, os últimos divulgados, a taxa de juros em operações de crédito de recursos livres (tradicionais linhas de crédito oferecidas pelo sistema bancário) às empresas atingiu uma média de 24,57% ao ano, ou 1,85% ao mês. Temos, portanto, o maior patamar desde janeiro de 2023, quando chegou a 1,87% ao mês.
O gráfico abaixo nos auxilia a compreendermos visualmente melhor a evolução do custo do crédito às Pessoas Jurídicas nos últimos treze meses e em especial desde o fim de 2024, dado que somente de lá para o último mês de março houve um aumento de 0,20 pontos percentuais na taxa de juros média mensal às PJs no país.
Gráfico 1: Evolução da taxa média mensal de juros das operações de crédito com recursos livres no Brasil – Pessoas jurídicas (%)
Fonte: BCB / Elaboração: Sindilojas SP
Linhas de crédito
Saber que a taxa de juros praticada na média das operações de crédito para as empresas no país está subindo nos últimos meses e que atingiu em março passado os 1,85% a.m. até é importante para o varejista da cidade de São Paulo, mas somente esta informação não basta. Por isso, o Sindilojas SP se debruçou na trajetória recente do custo de 10 linhas de crédito que compõem 80% das operações de crédito destinada às empresas no país, não só com o objetivo de conhecer suas últimas taxas médias,( para os empresários representados poder compará-las com as quais ele encontra em suas contas correntes empresariais), mas, igualmente, para tentarmos decifrar se na prática também está havendo o encarecimento das linhas de crédito mais utilizadas pelos estabelecimentos.
Como poderá ser observado na tabela abaixo, é possível constatar que há aumento do custo do crédito nas principais linhas de crédito disponibilizadas pelos bancos às empresas no país. Comparando as taxas médias destas 10 operações em março de 2024 e agora em março de 2025, veremos que em oito houve crescimento.
Capital de giro
Para a linha de capital de giro de curto prazo, passou-se de 1,75% ao mês para 1,79% ao mês, para o de longo prazo de 1,47% ao mês para 1,75% ao mês. Já com relação às importantes antecipações de vendas efetuadas no cartão de crédito dos clientes, a taxa média mensal passou de 0,93% ao mês para significativos 1,28% ao mês.
Movimento similar ocorreu com o desconto de recebíveis e mesmo linhas específicas para a aquisição de automóveis e outros bens. Os dois únicos “refrescos” ocorreram em linhas de crédito de alta disponibilidade e que, por isso, custam mais caro às empresas, isto é, possuem juros mais elevados, como a famosa conta garantida e o cheque especial. Porém, mesmo nestes dois casos, houve reduções bastante tímidas.
Tabela 1: Índice do volume de vendas do comércio varejista restrito do Estado de São Paulo (%) – março de 2025
Análise econômica
Ao constatarmos a importância do crédito nas operações diárias dos estabelecimentos comerciais, seja para cobrir furos rotineiros de caixa ou na tentativa de uma expansão, compreender o tamanho das taxas de juros e para onde elas caminham são atitudes essenciais ao empresário, ainda mais em um momento como o vivido, de aumento deste custo das linhas de crédito.
Saber que haverá mais juros na antecipação das vendas efetuadas via cartões de crédito nos impõe, por exemplo, um novo planejamento do quanto se pode ou não antecipar, para evitar espremer mais ainda as margens de lucratividade ou, por vezes, trabalhar no negativo.
Um outro exemplo: saber que o custo de crédito para capital de giro ou mesmo da conta garantida ou cheque especial está maior (ou continuam elevados) aumenta o desafio de uma boa gestão quanto aos prazos de pagamentos e recebimentos, bem como do próprio fluxo de caixa, dado que qualquer deslize implicará num custo mais “salgado” de captação de recursos com os bancos. E vale o mesmo para quando não há um problema de falta de liquidez do estabelecimento, mas sim a necessidade de recursos para a aquisição de um novo automóvel ou outro bem.
Exercício de comparação
Enquanto perdurar o processo de progressão ou manutenção das taxas elevadas da taxa Selic, haverá impactos negativos aos estabelecimentos empresariais, seja em relação às vendas, via a influência no consumidor (que também vê mais caras suas linhas de crédito), seja em relação aos custos mais elevados das importantes linhas de crédito que dão suporte operacional e condições de desenvolvimento dos comércios, por exemplo.
Reafirmamos a necessidade do empresário em comparar as taxas de juros que hoje o sistema financeiro a ele disponibiliza com as médias praticadas no mercado (tabela 1), bem como um cuidado gerencial ainda mais criterioso para não faltar liquidez em períodos de juros altos no Brasil, que deve perdurar, infelizmente.
Departamento de Economia e Tributação
O Sindilojas-SP implementou o Departamento de Economia e Tributação, objetivando levar ao empresário do comércio varejista um rol de informações relacionadas à conjuntura macroeconômica, imprimindo sobre estas as particularidades do setor do varejo.
Esse movimento do Sindilojas-SP leva em consideração o fato de que temáticas como obrigações fiscais, carga tributária e questões relativas à recente regulamentação da Reforma estarão permanentemente presentes no dia a dia dos empresários do comércio.
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